quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Rede Nossa São Paulo - IRBEM, seus índices e pré-candidatos


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Hoje estive nesse encontro de pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo e mais uma vez pude confrontar a visão da cidade sob os diversos ângulos de pontos de vista e também de interesses políticos.

A cidade e suas nuances é um mistério profundo para todos nós.

Tenho interesse pela cidade e pelas políticas públicas desde jovem e lembro como se fosse hoje o dia em que Tancredo ficou doente, rodeado de mistérios. Também das histórias que minha mãe contava de quando veio da Itália e não entendia português mas entendeu quando Getúlio Vargas morreu. Outro mistério.

Também de quando minha irmã trabalhava na Nova Central do Bradesco, perto do Dops e meus pais ficavam com medo da repressão contra os estudantes e das bombas de gás atiradas na Avenida Ipiranga.

Lembro como se fosse hoje quando minha mãe andava pela rua comigo ainda criança, aprendendo a ler. Ela pedia para conversarmos baixo pois ela e meu pai eram estrangeiros e se fossem pegos falando mal do Governo poderiam ser deportados.

Lembro da minha adolescência.Abraçamos o título de eleitor com dezesseis anos e o primeiro voto já foi pra Presidente. E de nossa decepção por não eleger o candidato sonhado. 

E lembro de tudo um pouco: Na faculdade, e eu saindo da FAAP acompanhada pelos estudantes da PUC, passando no Mackenzie e pegando carona no carro do PT para engrossar a massa manipulada na Avenida Paulista. Eu era burra mas não tanto a ponto de aceitar segurar a bandeira vermelha. Meu primeiro voto foi emocionante pois marcava o fim do medo da repressão. Depois veio o medo do Lula. Esse ainda não passou.


O PT tratou de dissolver as associações de bairro e transformá-las em núcleos para impedir a formação de lideranças regionais fortes. Essa democracia é estranha.

Nesses anos todos foram muitas horas de TV Câmara, TV Justiça, Mensalão, Escândalo das Esmeraldas, das Loterias, muitos livros sobre Política, muitas apostilas sobre gestão pública. Muitas horas na faculdade de Economia. Muito papo, muita leitura de jornal e agora com a vivência no Conselho de Metas, no Conseg e aos poucos tudo o que era obscuro vai clareando, muitas claridades vão se enebulando e a vida vai parecendo uma viagem de descida da Serra, em dia de neblina pesada.

Hoje no indicativo IRBEM da Rede Nossa São Paulo já cheguei confiando desconfiando das estatísticas que mais um ano apontam a cidade como aquela que privilegia o centro-oeste e esquece a periferia, sem considerar em voz alta a história da cidade e seu desenvolvimento a partir do centro. 

O IRBEM não comenta a grande área de terrenos invadidos na periferia da cidade nem sua ocupação desordenada. Não comenta nem considera a história recente de São Paulo como uma cidade que nasceu comercial, virou industrial e hoje é uma cidade de serviços.

Esse indicativo e sua forma de apresentação também privilegia a ira pobres desfavorecidos contra ricos privilegiados, o que hoje em São Paulo não é mais uma realidade. A região centro-oeste arrecada impostos municipais em grande escala e os distribui para o resto da cidade, assim como São Paulo faz com os outros estados do Brasil. Mas isso não é considerado pelo IRBEM, que não comenta nosso IPTU milionário confrontando-o com nossas ruas sujas e esburacadas.

O índice IRBEM coloca a zona sul como alto índice de gravidez na adolescência e transfere ao poder público a responsabilidade por essa estatística. Sim, a educação e prevenção, o planejamento familiar é uma das funções do Governo mas o responsável por esse assunto é a FAMÍLIA. Se as famílias estão desestruturadas ou se a TV incentiva o sexo precoce sem que possa haver censura, segundo meu entendimento essa culpa não é do Prefeito nem do Secretário.

Ainda lembrando sobre meu passado, lembrei que meus pais vieram pro Brasil como imigrantes e não invadiram terreno. Foram trabalhar de empregados, pagaram aluguel, moraram em garagem, quarto e cozinha, compraram terreno e demoraram trinta anos para construir a casa bonita onde moramos até hoje. Para isso quase não passearam, andaram muito de ônibus, nunca mais voltaram para a terra-natal. Não foram muito ao cinema. Usaram roupas até acabar. Comeram comida básica. Ensinaram as filhas sobre a importância do recato. Os perigos do sexo inseguro. Falaram sobre honra e vulgaridade. Matricularam as filhas em escola pública e só uma passou em vestibular público. Pagaram faculdade de medicina sem terem estudo algum. Nunca fomos beneficiados por cotas. E assim, para hoje terem alguma coisa, passaram vontade para inúmeros ítens de consumo. E pagaram muito imposto. Só foram pagar plano de saúde na terceira idade. 

O IRBEM ainda coloca os que tem plano de saúde como a meia dúzia de privilegiados. Deveria lembrar que se essas pessoas estivessem nas filas dos hospitais públicos elas seriam maiores ainda. Então os ricos nesse caso não estão sendo privilegiados mas sim prejudicados, pois além de pagar ainda esperam pelas consultas um bom tempo. Esses mesmos pagam escola particular para os filhos - mais vagas para os menos favorecidos. Também empregam pessoas que moram na periferia. Mais trabalho para o povo. 

Nada mais natural do que a região central ter mais equipamentos públicos pela história de desenvolvimento da cidade e também pelo fato de concentrarmos grande número de empregos. Não somos os únicos a desfrutar os serviços públicos aqui oferecidos. Se for ver, os que moram aqui são os que menos desfrutam. E estão sendo expulsos da sua própria região com a verticalização desordenada. Mas isso não aparece no IRBEM. Para construir a cidade dos sonhos é preciso tempo para urbanizar ainda mais as favelas e as ocupações do solo efetuadas sem nenhuma responsabilidade. Nisso a cidade errou, e errou feio. Não é possível permitir a invasão desordenada do solo sem fiscalização efetiva. 


Fazer alguém trabalhar a vida toda e morrer pagando aluguel como pagamento por ser honesto e dar casas de graça para os invasores é no mínimo estranho. Ainda mais por sabermos sobre a alta organização dos movimentos de invasão de edifícios. Os camelôs também costumam ser bem organizados. Por isso vendem do mesmo fornecedor "tadinho". 

Falar mal do Governo é prática comum, vende Jornal e é carne de vaca. Todo mundo faz isso e faz bem. É lógico que se na TV tanta coisa ruim passa o tempo todo, as pesquisas indicarão desempenho ruim sempre. A Soninha Francine percebeu isso na pesquisa e comentou. Ela tem toda razão. E também sabe o que está falando pois foi Subprefeita e viu a cidade como um todo. A incompetência pública não é assim tão absurda. Se fosse, estaríamos afundados nos sacos de lixo. 

Netinho de Paula acompanhou os índices das pesquisas (em sua grande parte óbvios, apontando as diferenças de desenvolvimento entre o Centro e a periferia) e alegou ter ficado com depressão. O que é de se estranhar já que ele é vereador há anos e deveria conhecer grande parte dos índices explanados. E também lembrou ter sido pobre e ter andando de ônibus. Entendo que um bom vereador não deixa de andar de ônibus nem de ir ao banco ou fazer coisas normais só porque está mais rico. Assim fica difícil saber os problemas da população. A mobilidade urbana é para todos. Pobres e ricos. É tão errado um pobre demorar três horas no ônibus para chegar no centro como um rico ficar três horas na radial para chegar em Aricanduva. Deve ir de metrô.

Senti falta da Rede Nossa São Paulo falar sobre as competências necessárias a um bom Prefeito. Pois ali estavam pessoas de diferentes formações. São Paulo, com tantos problemas, não precisaria de uma pessoa bem preparada e excelente conhecedora da cidade para assumir esse compromisso? Ou será que a culpa é só da corrupção generalizada? Será que as pessoas não confiam nos políticos só porque são corruptos ou também por eles terem fichas criminais apontando outros boletins de ocorrência? E mesmo que tenham a capivara em ordem, será que têm estudo suficiente? Porque eu teria vergonha de me tornar o Tiririca do Senado.


Senti falta da Rede Nossa São Paulo destacar na pesquisa o índice de conscientização do comportamento pessoal do indivíduo e seu impacto na cidade. Senti falta da Rede Nossa  São Paulo destacar o grau de conhecimento das pessoas sobre a história da cidade e de sua fragilidade geográfica. De destacar na pesquisa a importância do respeito aos seus moradores e aos seus mananciais. A obrigação de todos em pagar impostos. A igualdade como um todo.


Minha vizinha tem casa no Nordeste mas veio pra cá ganhar um dinheiro para fazer uma poupança. Ela é faxineira na fábrica da frente e paga o aluguel de um quarto e cozinha com metade de seu salário. Não virou camelô nem invadiu casa abandonada. Paga impostos. Guarda pouco dinheiro porque quase não sobra. Não tem bolsa-auxílio presidiário. Sustenta seus filhos. Tem dignidade e sabe distinguir o que é seu e o que não é. Ela é pobre. E mora na zona oeste.

Gabriel Chalita citou Aristóteles e o modelo ideal de democracia. Ele tem razão, realmente seria incrível poder desfrutar dessa bênção, não fosse a ganância e a vaidade humana sempre falar tão alto. E eu não critico quando valores morais ou até mesmo religiosos sejam misturados à política. Acho que tudo se interliga. Mas obviamente a podridão das instituições maculou esse processo. Chalita tem vocação pra ser grande, mas para ser Prefeito de São Paulo é preciso entender menos de filosofia e mais de logística. Entender de drogas, de latas de lixo. O Prefeito precisa conhecer direitinho as regiões, os bairros, os perfis. Ter ótimos contatos e muito pulso para lidar com um elefante branco. Ser um administrador. E um político brilhante. Além de estar rodeado por uma equipe confiável. O que hoje é difícil em todos os partidos.

A organização da Rede Nossa São Paulo já começou falando mal do PSDB. E passando algumas informações incorretas sobre as prévias. Mas, tudo bem. O público também era meio tendencioso mas também, tudo bem. Isso fica fácil de perceber só batendo o olho no pessoal. Não eram todos, claro, mas grande parte dos movimentos de partidos x e y. 


O representante do PSOL arrancou palmas da plateia ao fazer um discurso muito parecido com o do antigo PT, sobre desigualdades, passe livre, proletariado. Teceu duras críticas a ação do Governo em suas intervenções na USP e na Cracolândia. Criticou os militares, confundindo a polícia militar de hoje com o militarismo. As ações da USP e do passe livre depredaram patrimônio público e defender essas atitudes é sonhar com um Brasil oriental e ocidental, como na Alemanha. Pensar os pobres de hoje como pessoas burras, desinformadas ou sem atitude e encontrar um padrão de comportamento uniforme para todos é desconhecê-los. Os pobres de hoje tem hábitos de consumo surpreendentes. Os shoppings sabem disso e estão montando unidades bem sucedidas na periferia.  É preciso melhorar a remuneração e também os serviços públicos, melhorar o transporte mas também é preciso defender os pobres do consumismo descartável. Ajudá-los a planejar a vida, as finanças, ajudá-los a ganhar mais e a poupar mais. E mostrar a eles sobre o custo de um bebê. O governo não pode ser o segundo pai de todos. Ainda mais numa cidade onde milhares chegam todos os dias na rodoviária. É muito peso para São Paulo suportar sozinha. Ainda mais pagando dez por cento de sua receita em dívidas para o governo federal. Se o deserviço do PT ao diminuir a receita para a educação em 5% inviabiliza o desenvolvimento da educação, o passe livre também inviabiliza o empresário do transporte a investir nesse ramo. Haja amor para um e para outro. Talvez o mais certo fosse cobrar tarifa por metragem, aí sim seria mais justo. E uma tarifa máxima municipal. Aí sim, a partir da tarifa máxima, passe livre. 


A figura do empresário vilão é antiga. E se os pobres fossem todos iguais já teriam aderido à campanha do passe livre. O movimento não consegue sair dos diretórios acadêmicos das universidades. Deve existir alguma razão para isso. O povo não é assim tão burro como os movimentos revolucionários imaginam. Esses movimentos atribuem a não adesão à falta de conhecimento político mas estão enganados. Precisam se dar conta disso. O discurso político não pode ser igual ao de vinte anos atrás, pois nesses vinte anos São Paulo, a economia, a tecnologia, o perfil de consumo e os desejos individuais são outros.


Fiz uma experiência e fui estudar história numa apostila do Anglo. O bom de estar mais velha é poder ler sobre assuntos  contemporâneos e pude perceber como é absurda a forma tendenciosa como a história política é colocada. Pobres jovens diante desse péssimo material didático. E de grão e grão vamos construindo nossas mentes e nossas vidas em cima de mentiras. Já não bastam os erros de percepção ainda somos assolados com as distorções propositais. Pobres bíblias; Fábulas e mais fábulas seguramente as compõem.

É isso aí. Votar é um tiro no escuro. Ler jornal, ir à missa e estudar são dois. E quando a gente percebe já está no meio dos cara-pintadas, fazendo papel de palhaço.

1 comentários:

Fernanda Rodrigues disse...

1. Todos os livros que se encontram nas bíblias de edições protestantes estão tb. nas católicas. Mas nestas há 7 livros a mais no Antigo Testamento: Tobias, Judith, Baruch, Eclesiástico, Sabedoria, 1 Macabeus e 2. Macabeus. São chamados de "dêuterocanônicos" nas ediçoes católicas, Mas tudo o que está em uma ed. protestante tb. está na biblia de ed. católica. Pode haver pequenas diferenças de palavras, devido às traduções, mas o sentido, a mensagem, é a mesma.
1. Bíblias com anotações. Em geral as biblias de edições católicas, como a trad. do Pe. Antonio P. de Figueiredo, a Matos Soares, a Ave-Maria, trazem anotações ou mesmo alguma interpretação, seja no rodapé, seja na parte final. A Bíblia de Jerusalém, ed. católica, é mais sóbria e traz anotações mais de caráter explicativo, e contém boas introduções a cada livro da Bíblia. Idem.
As bíblicas de ediçoes protestantes, até uns 35 anos atrás, limitavam-se a notas de referências sobre textos semelhantes na própria Bíblia, sem comentários. Porém, hoje há muitas biblias de ed. da Sociedade Bíblica do Brasil ou outras, anotadas. Ex., Biblia de Estudo Almeida (essa evita notas apologéticas), a Bíblia Ed. Vida Nova, a Biblia de Estudo Pentecostal, etc.
A TEB, Tradução Ecumênica da Biblia traz subsídios como introdução a cada livro, notas explicativas, mas não toma partido na interpretação dos textos a favor de uma ou outra igreja.
Fora o Evangelho segundo o espiritismo e mais um milhão de outros livros do gênero, todos incluídos na desconfiança interpretativa ou até mesmo "criativa".